domingo, junho 22, 2008

Viagem & Conversa - A estrela da sorte


Poucos dias depois de meu irmão nascer, meu avô Dante veio de visita à casa da Vó Ina, para conhecer o neto. Bem barbeado, bem vestido como sempre, mas ainda mais solene: de paletó e gravata.

Puxou a cadeira para uma distância respeitável da cama, de forma que pudesse ver mãe e filho, mas com a devida reverência. Afinal, era só nestas ocasiões, que homens, além dos maridos, podiam entrar em quartos de mulheres casadas: quando elas tinham bebês.

Minha mãe, que perdera o pai com apenas sete anos, adorava o Vô Dante. Os dois eram bastante próximos . Mas o Vô estava estranhamente constrangido naquela manhã. Cruzava e descruzava as pernas e não tinha lugar para as mãos.

- Seu Dante, o que está acontecendo? O senhor parece nervoso!- Elza, escute só, eu não queria estar aqui dizendo isso. Mas a Quinha me obrigou a vir e a dizer que é pra você e o Dário encontrar outro nome pro neném; que o meu não serve, que eu nasci sem estrela, não tive sorte na vida, meus negócios nunca deram certo ...

- Seu Dante, eu não quero nem ouvir falar disso e o Dário também não. Se este neném não tiver o nome do senhor o Dário vai ficar muito magoado. E outra coisa, eu acho que o senhor é um homem de muita sorte. Tem sua família, criou seus filhos, é respeitado por toda a cidade. Todo mundo conhece o senhor e lhe quer bem, o que mais um homem pode desejar?

- Bem, Elza se é assim que vocês pensam eu vou dizer pra Quinha que vocês não aceitaram o conselho dela. Da minha parte, fico muito feliz e orgulhoso que o neném tenha o meu nome. Até já estou achando ele parecido comigo, olha o nariz dele...

- Seu Dante pode pegar o neném, o senhor sabe o quanto o Dário e eu gostamos do senhor. Não vamos mais tocar neste assunto. E pode ter certeza, esse menino nasceu com estrela, vai ter muita sorte na vida, o senhor vai ver!

- Então, se é assim, dou a minha benção.

Quando o meu irmão passou, no concurso do Banco do Brasil e na Universidade de Brasília, para Engenharia Civil,tudo junto, com apenas 18 anos, minha mãe disse: Eu sabia, esse menino tem estrela!

Quando meu irmão me apresentou a namorada com quem mais tarde se casaria, linda, num vestido bege, com uma trança de raiz e olhos enormes, eu pensei: Tem mesmo!

3 comentários:

  1. Clra,

    todos nós temos sorte.
    Nossa convivência é rara e especial...

    ResponderExcluir
  2. Mais uma blz de conto "verdadeiro" da família. Essa história de sorte e azar era uma marca registrada da Vó Quinha que adorava desvendar nossos sonhos para jogar no bicho. Imagina fazer o coitado do Vô Dante passar por essa. Um nome tão bonito, com a inteligência dos Pelicanos e a determinação de vencer dos netos, só podia dar nisso: vitória.

    ResponderExcluir
  3. Mas não foi só isso, tem mais! Passei na mesma época no Banco Central, Caixa Econômica, NPOR (Núcleo de preparação de Oficiais da Reserva). Era uma época de muito deslumbre e tudo era fácil. Como estudava para prestar vestibular para Engenharia Elétrica (Passei em segunda opção para engenharia civil em jan/76) cujos concorrentes eram muito bons, todos esses concursos eram muito fáceis. Nesse concurso do BB, muitos fizeram mas só eu passei. Do Banco Central, acho que o Gonzaga passou no mesmo. O do Caixa, acho que nem fui fazer a segunda fase, que era comum naquela época. Uns 3 anos depois eu desisti da Eng. Civil e pedi desligamento. Voltei a estudar para o vestibular e fui passar pra Eng. Elétrica, em julho 1980, quando já estava noivo da Su. Tive de estudar muito e ainda levei 2 paus até passar novamente.

    ResponderExcluir