
Poucos dias depois de meu irmão nascer, meu avô Dante veio de visita à casa da Vó Ina, para conhecer o neto. Bem barbeado, bem vestido como sempre, mas ainda mais solene: de paletó e gravata.
Puxou a cadeira para uma distância respeitável da cama, de forma que pudesse ver mãe e filho, mas com a devida reverência. Afinal, era só nestas ocasiões, que homens, além dos maridos, podiam entrar em quartos de mulheres casadas: quando elas tinham bebês.
Minha mãe, que perdera o pai com apenas sete anos, adorava o Vô Dante. Os dois eram bastante próximos . Mas o Vô estava estranhamente constrangido naquela manhã. Cruzava e descruzava as pernas e não tinha lugar para as mãos.
- Seu Dante, o que está acontecendo? O senhor parece nervoso!- Elza, escute só, eu não queria estar aqui dizendo isso. Mas a Quinha me obrigou a vir e a dizer que é pra você e o Dário encontrar outro nome pro neném; que o meu não serve, que eu nasci sem estrela, não tive sorte na vida, meus negócios nunca deram certo ...
- Seu Dante, eu não quero nem ouvir falar disso e o Dário também não. Se este neném não tiver o nome do senhor o Dário vai ficar muito magoado. E outra coisa, eu acho que o senhor é um homem de muita sorte. Tem sua família, criou seus filhos, é respeitado por toda a cidade. Todo mundo conhece o senhor e lhe quer bem, o que mais um homem pode desejar?
- Bem, Elza se é assim que vocês pensam eu vou dizer pra Quinha que vocês não aceitaram o conselho dela. Da minha parte, fico muito feliz e orgulhoso que o neném tenha o meu nome. Até já estou achando ele parecido comigo, olha o nariz dele...
- Seu Dante pode pegar o neném, o senhor sabe o quanto o Dário e eu gostamos do senhor. Não vamos mais tocar neste assunto. E pode ter certeza, esse menino nasceu com estrela, vai ter muita sorte na vida, o senhor vai ver!
- Então, se é assim, dou a minha benção.
Quando o meu irmão passou, no concurso do Banco do Brasil e na Universidade de Brasília, para Engenharia Civil,tudo junto, com apenas 18 anos, minha mãe disse: Eu sabia, esse menino tem estrela!
Quando meu irmão me apresentou a namorada com quem mais tarde se casaria, linda, num vestido bege, com uma trança de raiz e olhos enormes, eu pensei: Tem mesmo!
Clra,
ResponderExcluirtodos nós temos sorte.
Nossa convivência é rara e especial...
Mais uma blz de conto "verdadeiro" da família. Essa história de sorte e azar era uma marca registrada da Vó Quinha que adorava desvendar nossos sonhos para jogar no bicho. Imagina fazer o coitado do Vô Dante passar por essa. Um nome tão bonito, com a inteligência dos Pelicanos e a determinação de vencer dos netos, só podia dar nisso: vitória.
ResponderExcluirMas não foi só isso, tem mais! Passei na mesma época no Banco Central, Caixa Econômica, NPOR (Núcleo de preparação de Oficiais da Reserva). Era uma época de muito deslumbre e tudo era fácil. Como estudava para prestar vestibular para Engenharia Elétrica (Passei em segunda opção para engenharia civil em jan/76) cujos concorrentes eram muito bons, todos esses concursos eram muito fáceis. Nesse concurso do BB, muitos fizeram mas só eu passei. Do Banco Central, acho que o Gonzaga passou no mesmo. O do Caixa, acho que nem fui fazer a segunda fase, que era comum naquela época. Uns 3 anos depois eu desisti da Eng. Civil e pedi desligamento. Voltei a estudar para o vestibular e fui passar pra Eng. Elétrica, em julho 1980, quando já estava noivo da Su. Tive de estudar muito e ainda levei 2 paus até passar novamente.
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