domingo, junho 03, 2018

Amor que não tem jeito, mal sem remédio

A gente viaja, atravessa o Atlântico, percorre a pé, de trem, de ônibus ou carro, durante quase dois meses, dezenas de cidades, cidadezinhas, vilarejos, escala um vulcão em plena atividade, o Etna, e o Brasil não sai da gente.
Mesmo com muita reza, são muitas, muitíssimas as igrejas que encontramos pelo caminho, não conseguimos nos desligar do que acontece neste imenso e confuso país que nos foi dado como destino inicial.
É um amor que não tem jeito, um amor sem-vergonha que nos sufoca e tira o sono. Não adianta viajar pra esquecer, não adianta nos apaixonar por outro país, listar benefícios de um exílio voluntário sem data de retorno. Está grudado em cada centímetro de nossa pele. Ė tatuagem que muitas vezes nos enche de horror e da qual não nos livramos nem mergulhando em tantos outros rios e mares.
Pátria amada, patriazinha, mãe e madrasta que nos afaga e nos tortura, que nos aponta, ao mesmo tempo o céu e o inferno. Que cada dia nos exercita na esperança, no desânimo e no tédio.
Ser brasileiro é estar na corda bamba. Bêbados equilibristas somos todos. Mesmo não semeando ventos, estamos na colheita incessante de tempestades em copos d'água. De copo em copo ainda teremos um dilúvio. Acabaremos agarrados à ilusão da barca que nos permitirá começar tudo de novo.
É triste precisar voltar para um país ainda pior do que deixamos. É triste ver tantas oportunidades desperdiçadas, tantos bondes da história perdidos. Tanto futuro já com gosto de passado.
Padecemos de um mal sem remédio chamado Brasil. Nunca aprendemos com nossa própria experiência ou a dos outros. Estamos sempre querendo inventar a roda. Somos especialista em insistir no mesmo erro. Até que só erro tenha vez, como já disse o poeta. Nosso destino é chorar sobre o leite derramado. Amigos, podem colocar mais água no feijão. Estou voltando.

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