A Sé de Braga foi fundada na primeira década do ano 1000. Sendo assim, já existia antes mesmo de Portugal ser conhecido como país.

O cardápio bem simples chancela o estabelecimento como tasca. Apenas alguns pratos preparados pelo chef e proprietário. O serviço direto aos clientes é prestado por um dos filhos. Rapaz bem novo, vestido em jeans e camiseta, sorriso  largo no rosto.  Salada ou sopa, prato principal, sobremesa (fruta da estação), água e café, tudo por seis euros. Pode? 

Eu e minha amiga pedimos uma dobradinha, desculpe-me o leitor mais sensível. Estava deliciosa. O tempero sem nada a faltar ou a exceder. Um arroz reluzente, feito na hora, acompanhava a maravilha.  De sobremesa, melão dos mais doces. Em sabor e atendimento, nada a desejar das antigas tascas escuras e de cheiro entranhado nas paredes. Bem melhor. 

À saída, pergunto ao chef e proprietário quais os pratos que servirá no dia seguinte. Ele responde que não sabe ainda. Não tem nada estocado. As carnes, verduras e frutas que serve são as do dia, as mais frescas e bonitas do mercado da cidade, onde chega todos os dias às cinco da manhã. Me senti mais premiada que em restaurante estrelado. 

Velhas tascas sobrevivem em Lisboa, Braga  e outras cidades portugueses. Umas bem acanhadas, outras quase exuberantes no estilo. Mas a maioria dos novos negócios são abertos tendo em consideração o conforto do cliente e de quem  ali trabalha. Com  os equipamentos,  hoje disponíveis, não há mais razão  para se comer peixe sentindo o cheiro do porco que está sendo fritado na cozinha. 

Muita gente aqui rejeita tal progresso. Eu não. Acompanho daqui, o noticiário do Brasil sobre o programa de privatizações recém anunciado e os comentários nas redes. A maioria contra, espelhando-se nas reclamações que temos dos serviços das teles. Não sabem, ou fingem ignorar, o que vivemos até a década de 90. Confundem soberania nacional com estatais gigantes, sujeitas ao loteamento político e a processos de saneamento financeiro recorrentes. Não acreditam no poder regulador do Estado e nem trabalham para fortalecê-lo. Quem vive a mudança e trabalha por ela, pode ter até algumas nostalgia do passado, desde que ele não volte. Viva as novas tascas portuguesas!