sexta-feira, fevereiro 24, 2017

Juscelino, paixão pelo Alvorada

Graças à obstinação de Juscelino Kubitschek , nossa capital, para o bem ou para o mal, foi parar no Planalto Central do Brasil. O presidente visionário sabia que poderia morrer em qualquer lugar do mundo, mas que certamente seria enterrado em Brasília. E, se pudesse escolher o leito definitivo, o pedaço de terra que mais amou em vida, escolheria os jardins do Palácio do Alvorada.

"Ele amava este Palácio.Tinha paixão pelo alvorecer visto daqui" - contou Oscar Niemeyer a um grupo de jornalistas, durante uma de suas raras visitas à capital nos anos 90.   Niemeyer puxou da memória grande parte dos sentimentos de Juscelino sobre cada pedacinho construído da nova capital.  A felicidade que sentiu ao aglutinar na grande obra uma legião de trabalhadores de todo o Brasil que deram forma aos sonhos e mesmo delírios de engenheiros, arquitetos e artistas plásticos. 

Os principais prédios públicos de Brasília foram construídos com arquitetos, escultores e pintores trabalhando lado a lado. Foi possível, assim, decisões como a de paredes inteiras com treliças ou relevos de Athos Bulcão, como as que podem ser vistas no palácio do Itamaraty.

Muitos presidentes passaram pelo Alvorada, mas na biblioteca  do palácio só JK permanece num pequeno portarretrato. Numa das paredes do grande salão de entrada,  'Os músicos' de Di Cavalcanti.  A biblioteca era o lugar predileto de JK. Lá ele despachava, trabalhava solitariamente ou varava noites conversando ou em saraus com amigos e artistas convidados. 

Havia serestas, quando as grandes janelas que dão para o Lago Paranoá eram abertas para brisa e o perfume que ela trazia e o luar refletido nas águas. A biblioteca interliga-se ao salão principal  e perto dela continua lá o piano de cauda, exigência de JK.

Figueiredo odiava o Alvorada e morou na Granja do Torto, uma construção bem simples, mas com cocheiras para os seus cavalos, piscina e churrasqueira. Hoje a residência do Torto está praticamente envolta pelos condomínios residenciais que proliferam em Brasília.
Collor também odiava o Alvorada. E nem morar no Torto quis. Preferiu a Casa da Dinda, residência da família, de triste lembrança pra jornalistas forçados a plantões horrendos ali sob o sol, chuva, sem uma lanchonete ou banheiro por perto.

Lula nunca demostrou particular afeto pelo Alvorada. Até reclamou da falta de uma churrasqueira que foi logo providenciada. Mesmo assim, se o trânsito da cidade fosse o mesmo dos tempos de Figueiredo, certamente teria morado com Dona Marisa na Granja do Torto. Com Lula e Dona Marisa, o Alvorada até ganhou  árvore de Natal e presépio nos jardins. 

Dona Marisa fez um canteiro  de flores com o formato de estrela. Dona Ruth incorporou uma horta com a ajuda da chef Roberta Sudbrack. Nada sei da contribuição de outras primeiras-damas ao folclore da decoração palaciana. Até que, por conta do menino Michel, a mãe zelosa Marcela Temer solicitou que se providenciasse rede de proteção nas janelas. A pequena família presidencial, depois de uma vã tentativa de adaptação, acabou voltando para a vice-residência oficial.  

Teresa Goulart interrompia reuniões  do marido, atravessando o salão de biquini em direção  ao sol da  piscina. Sem se embrulhar em roupões ou saídas de banho. Piscina  também muito amada por Fernando Henrique, presidente que quase se igualou a JK na paixão pelo Alvorada.  

Aos domingos, o presidente da privatizações costumava receber o ministro  da Fazenda, Pedro Malan para longos papos. Certamente ficavam roucos de tanto falar mal de Serra, amparados por alguns uísques e charutos. Tanto Fernando Henrique como Lula foram privilegiados em relação a JK. Puderam lá viver oito anos seguidos. 

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