terça-feira, novembro 17, 2015

Paris, a cidade e o deserto

Meia-Noite Em Paris, de Wood Allen, e O Céu Que Nos Protege,  de Bertolucci. Alguns podem estranhar o paralelo que tento fazer aqui. Mas, os dois filmes falam de viagem não é mesmo? Viagem pelo mundo físico, para dentro de nós mesmos, de nossas fantasias, do nosso imaginário que ganha maior relevância nos contatos possíveis com as fantasias, o imaginário dos nossos semelhantes, esses seres que coabitam o planeta Terra, tão desconhecido  quanto o universo que nos rodeia. Se há mesmo um universo nos rodeando.
Sempre me  perco em leituras sobre o universo: origem, formação e futuro. Uns dizem que é infinito. outros que é muito, muito menor do que imaginamos; que as bilhões de galáxias são apenas projeções infinitas sobre a tela do espaço/tempo que podemos perceber a partir das limitadas habilidades que temos e dos instrumentos que construímos. 
A Ciência não é afirmativa. Afirmações pertencem ao terreno da Fé. E em questões de Fé, sou quase uma completa nulidade. Dizem que há um gene específico  que define as pessoas como crédulas (no bom sentido) ou em eterna dúvida.  Pertenço ao segundo grupo o que, muitas vezes, lamento.  
Voltemos aos filmes.  Paris e o deserto são mitos. São espaços de miragens. E, em espaços assim, somos outra pessoa. Falamos diferente. Nos comunicamos diferente conosco e com quem nos é próximo ou distante. Perdemos referências e ganhamos outras. Digo que viajar é deixar que se abra em nós estados alterados de consciência que se dá como magia. Despimos literal e metaforicamente do que somos. 
Não se preocupem, a rotina depois  nos endurecerá de novo. A não ser que estejamos sempre em movimento, mesmo engessados pelas dificuldades diárias. Afinal, não é preciso de trem, ônibus, avião, de andar ou algum aditivo químico pra se viajar.  E lembrando Cervantes, a vida é o que se vive acordado ou o que se vive em sonho? O que é estar desperto? Ou que estar em estado de sonho?  Aí a chave dos dois filmes.
Reescrevia este pequeno texto, quando tomou conta de mim a tristeza das  primeiras notícias desse trágico 13 de novembro de 2015, em Paris. Paro por aqui. No momento sou a cidade e também o deserto molhado de sangue e lágrimas. 
Texto publicado em 15/11/2015 no Blog do Matheus Leitão (G1) 

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