Vésperas e dias de aniversários de criança eram de alvoroço, de animação na cozinha. As tias chegavam todas juntas. A avó dava início, com pompa e circunstância, ao ritual de preparação dos comes e bebes que começava com a quebradeira de ovos.
Gemas eram separadas das claras. Gemas eram batidas com açúcar refinado, luxo em dias especiais, até ficarem esbranquiçadas. Claras eram batidas com dois garfos bem grandes até o ponto de neve. Parte afofaria o bolo. Parte, misturada ao açúcar, a corantes e sumo de limão, faria a cobertura. E uma terceira era destinadas aos pequenos suspiros, crocantes por fora e molhadinhos por dentro.
O bolo principal, de andares, era colocado ao sol para que o glacê ficasse durinho, já na tarde, véspera do aniversário. Bolo feito, os docinhos começavam a ser apurados em tachos e panelas. Brigadeiros não eram facilitados pelo leite condensado. O ponto era dado na ferveção. Imaginem o tempo que demoravam a ficar prontos.
Beijinhos tinham cravos espetados bem no meio. Cajuzinhos não eram redondos, mas em forma de cone com amendoins descascados, encaixados nas pontas como lampadazinhas. Manjares de todas as cores eram servidos em lindos pratos de vidros, presentes de casamentos que só saiam da toca em dias de festas.
Salgadinhos eram empadas de palmito e de frango; pães de minuto recheados, pizzas fatiadas, espetinhos de azeitonas, queijos e salsichas. Todas as janelas da casa que davam direto à rua eram abertas; vidraças passavam por faxina geral. No quarto de casal, a colcha mais bonita do enxoval da mãe deixava a cama linda para receber os presentes que começam a chegar antes mesmo dos convidados. Os primeiros eram sempre dos padrinhos e madrinhas das crianças. E também os mais caros e bonitos.
Na sala de jantar, a mesa quadrada recebia toalha de crochê ou de rendas, sempre das mais alvinhas, e os pratos iam sendo colocados um a um, cuidadosamente, em volta do bolo, a estrela da festa. Algumas flores no vaso em cima da cristaleira, toalhinha engomada embaixo do filtro na cantoneira. Pronto, todo mundo de banho tomado e roupa de festa, espiando pela janela a chegada, quase em fila, dos convidados.
Os convites eram feitos verbalmente, de porta em porta. Obrigação do aniversariante que ia sempre acompanhado de alguém mais velho. Em um dos meus aniversários de pequena, passados em Ouro Fino, fiz combinação com meu primo Flávio. Eu batia à porta do convidado e, educadament,e recitava a hora e local da festa. E na hora que começava a me despedir, meu primo gritava, já um pouco mais longe: "É para levar presente, sabonete e santinho não valem!"
Publicado no Blog do Matheus Leitão Netto (G1, em 18/10/2015
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