O título deste post foi sugerido por um amigo. Foi assim. Estávamos tomando o café da manhã, no domingo, na casa da avó dele e saboreávamos deliciosas bolachinhas com raspas de limão. Pedi a receita. E resposta foi de que era impossível.
Não me conformei e lhe perguntei se Dona Ilse era ciumenta de suas receitas. "Não se trata disso", esclareceu. "Acontece que minha avó faz tudo no rumo. Não sabe nunca a medida exata dos ingredientes que emprega".
Registro que tal vó fez carreira em Brasília como nutricionista, uma das primeiras a atuar em políticas públicas com foco na alimentação balanceada de segmentos da população que inspiram cuidados especiais. Como o sucesso das receitas dependem do equilíbrio perfeito de seus componentes, estamos falando de alguém que sabe, com balança ou apenas no olho, exatamente o que faz.
Isso me fez lembrar de minha mãe Elza. As receitas dela eram impossíveis de ser reproduzidas. Ela também fazia excelentes medições apenas no olho. Mas tinha sempre soluções para o que faltava ou sobrava na dispensa e geladeira de nossa casa. Assim, a receita de bolo levava em conta os ovos disponíveis.
"Tia quantos ovos vamos usar", indagava uma sobrinha. E a resposta: "Veja quantos tem na geladeira. Só seis.? Então vamos usar três. Os outros deixamos caso alguém chegue para almoçar sem ser esperado."
Minha mãe não gostava de montar cardápios. Mas gostava de nos surpreender à tarde, principalmente nos fim de semanas, como alguma coisa especial para o lanche. Assim, se houvesse sobrado carne moída ou frango do almoço, era capaz de chegar à sala com o café pronto e delicosas coxinhas ou croquetes. Também fazia bolinhos de fubá, servidos com açucar e canela polvilhados. Sonhos recheados com creme, se grandes. Sem recheio e polvilhados também de açucar e canela, se pequenos.
Fazia pastéis e empadões. Tudo aproveitando sobras. Também fazia pizzas, daquelas bem grossas com fatias de tomate, sardinha ( que atum era muito luxo!), cebola e azeitonas. Panquecas com ou sem recheio. Mas o que tenho mais saudade é do bolo que ela fazia às segundas-feiras com sobras do macarrão do domingo. Também tenho saudade da bacalhoada com muita batata e pão amanhecido para fazer render o dispendioso peixe. E não nos enganava: "Estou servindo cheiro e gosto de bacalhau e não me amolem!"
Clara eu achava que tinha herdado este dom do tio Ângelo, cozinheiro de 1ª,mas, lendo isto vejo que é de familia,também faço pizza grossa, só que hoje com atum.
ResponderExcluirEmpadões com sobra do frango assado de domingo:- vou fazer amanhã.
Minhas receitas só eu entendo, e, uso como sua mãe e o tio , o que tem e não o que manda a receita.
Invento muito, e, acaba dando certo.
Que bom que é de familia!