Meu pai, Dário Favilla, foi um homem de grande coração, generoso, criativo, de sensibilidade à flor da pele. Mas me parece que ele fez questão, pelo menos em família, de ficar conhecido mais pelos defeitos do que pelas qualidades.
Dário era impertinente como dizia minha mãe. Intempestivo. Ciumento patológico. Ranzinza. Autoritário. Defeitos que aperfeiçou na maturidade e velhice. Enquanto todos concordassem com ele, tudo corria mil maravilhas. Não, não se importava de estragar almoços e jantares em família, para fazer prevalecer os próprios pontos de vistas e dar razões a sentimentos pouco nobres. Estava pouco se lixando, no momento, mesmo que o arrependimento lhe chegasse a galope. Mas aí nossos corações estavam partidos, minha mãe no quarto chorando, e minha avó sofrendo por nós.
No verão de 1956/57, de volta de São Paulo, estávamos em Ouro Fino, sul de Minas, abrigados na casa da Vó Ina. E, na véspera de meu pai partir para Arapongas, Paraná, para ver se acertava definitivamente a vida, tio Osmar, marido da irmã de minha mãe, Nair, resolveu lhe preparar uma surpresa. Combinou um jantar de gala com Vó Ina. Havia encomendado um grande peixe, um peixe enorme, desses que se fazem assados, iguaria difícil de acontecer na família. Sim, comíamos peixes, mas raramente e dos pequenos, quase sempre fritinhos. Mas tio Osmar viajava muito e sabia onde encontrar outros sabores.
O peixe chegaria pronto à mesa. Assado, recheado e ... decorado. Para isso, tio Osmar se valeu de um grande formo, me parece que de um hotel ou pensão da cidade. Vó Ina se encarregaria dos complementos; arroz branquinho, farofa, salada, batatas. Seria um jantar de gala, ainda dia claro porque estávamos em horário de verão.
Vó Ina caprichou. Desde o meio da tarde as janelas da sala de jantar estavam abertas, sinal de festa. A grande cristaleira fora limpa. A mais linda toalha sobre a mesa. Flores no vaso de cristal e na jarra de louça.
Meu pai havia saído. Quando chegou e viu aquele movimento todo, achou que a combinação do meu tio havia sido direto com minha mãe e ele morria de ciúme do cunhado. Só a hipótese de minha mãe ter passado dias combinando aos sussurros o jantar com tio Osmar, deixou Dário enfurecido.
Chega o peixe, o mais lindo e o maior do mundo da minha vida até então. Enfeitado com rodelas de tomate, cebola e limão. De tão assadinho, a pele rompida em alguns pontos deixava ver a carne branquinha pronta para garfadas.
Todos estávamos à mesa, sentados e comportados esperando pelo homenageado que demorava. Minha mãe fingia despreocupação, mas sabia que alguma coisa meu pai aprontaria. Pensado e acontecido. Lá chega meu pai à sala de jantar, de banho tomado e barba feita. Diz que, enfelizmente, como não sabia da surpresa, estava de saída para jantar com mãe. Coisa combinada no dia anterior.
Mentira! Ele já havia se despedido dos pais, havia passado a tarde com eles e muitos ali da mesa sabiam disso. E assim comemos o prato frio da vingança de Dário, assistindo as lágrimas brotarem nos olhos de minha mãe Elza.
Dário era impertinente como dizia minha mãe. Intempestivo. Ciumento patológico. Ranzinza. Autoritário. Defeitos que aperfeiçou na maturidade e velhice. Enquanto todos concordassem com ele, tudo corria mil maravilhas. Não, não se importava de estragar almoços e jantares em família, para fazer prevalecer os próprios pontos de vistas e dar razões a sentimentos pouco nobres. Estava pouco se lixando, no momento, mesmo que o arrependimento lhe chegasse a galope. Mas aí nossos corações estavam partidos, minha mãe no quarto chorando, e minha avó sofrendo por nós.
No verão de 1956/57, de volta de São Paulo, estávamos em Ouro Fino, sul de Minas, abrigados na casa da Vó Ina. E, na véspera de meu pai partir para Arapongas, Paraná, para ver se acertava definitivamente a vida, tio Osmar, marido da irmã de minha mãe, Nair, resolveu lhe preparar uma surpresa. Combinou um jantar de gala com Vó Ina. Havia encomendado um grande peixe, um peixe enorme, desses que se fazem assados, iguaria difícil de acontecer na família. Sim, comíamos peixes, mas raramente e dos pequenos, quase sempre fritinhos. Mas tio Osmar viajava muito e sabia onde encontrar outros sabores.
O peixe chegaria pronto à mesa. Assado, recheado e ... decorado. Para isso, tio Osmar se valeu de um grande formo, me parece que de um hotel ou pensão da cidade. Vó Ina se encarregaria dos complementos; arroz branquinho, farofa, salada, batatas. Seria um jantar de gala, ainda dia claro porque estávamos em horário de verão.
Vó Ina caprichou. Desde o meio da tarde as janelas da sala de jantar estavam abertas, sinal de festa. A grande cristaleira fora limpa. A mais linda toalha sobre a mesa. Flores no vaso de cristal e na jarra de louça.
Meu pai havia saído. Quando chegou e viu aquele movimento todo, achou que a combinação do meu tio havia sido direto com minha mãe e ele morria de ciúme do cunhado. Só a hipótese de minha mãe ter passado dias combinando aos sussurros o jantar com tio Osmar, deixou Dário enfurecido.
Chega o peixe, o mais lindo e o maior do mundo da minha vida até então. Enfeitado com rodelas de tomate, cebola e limão. De tão assadinho, a pele rompida em alguns pontos deixava ver a carne branquinha pronta para garfadas.
Todos estávamos à mesa, sentados e comportados esperando pelo homenageado que demorava. Minha mãe fingia despreocupação, mas sabia que alguma coisa meu pai aprontaria. Pensado e acontecido. Lá chega meu pai à sala de jantar, de banho tomado e barba feita. Diz que, enfelizmente, como não sabia da surpresa, estava de saída para jantar com mãe. Coisa combinada no dia anterior.
Mentira! Ele já havia se despedido dos pais, havia passado a tarde com eles e muitos ali da mesa sabiam disso. E assim comemos o prato frio da vingança de Dário, assistindo as lágrimas brotarem nos olhos de minha mãe Elza.
Esse Tio Dário foi foda.
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