quinta-feira, agosto 06, 2020

E por falar em amor...




Cavalo sem sela, a galope. Só corajosos, bandidos ou mocinhos, conseguem montá-lo.  Agarram-se, como podem, às longas crinas  para o deleite da cavalgada. O trote. De repente, o bicho empina, escoiceia,  relincha. Enlouquecido, derruba cercas., salta valas. O iludido pela posse momentânea afoga-se , então, em mares de cascalhos, lama, poeira. Ou é tragado por precipícios abissais. 

O amor está sempre de passagem e com pressa.  E, quando chega, nunca é igual à prometida espera.  Nunca tem gosto, temperatura e a textura pressentida. E se assim acontece é miragem. Há os que nunca aprendem,  os sempre dispostos  às traições, aos enganos. 

É o amor que nos acha. Preciso é reconhecê-lo na forma que se apresenta, no instante que chega. Qualquer vacilo, perdição pura. É raio. De olhos fechados só se sabe do trovão.  Se a boca é  carnuda, os olhos são mínimos. Se os olhos são estrelas, o nariz é adunco. Se alto, desengonçado. Faz graça se é triste. Se é triste, tem uma criança que brinca dentro dele.

Nunca está à disposição. Nunca é para sempre. Vai embora mesmo quando não quer. Atrevido, caprichoso, domina quando olha de lado e não olho no olho. Aceita açoites, não grilhões. Paparicos valem de nada.  Come na tua mão. Não agradece. De noite,  mar de rosas. De dia, só espinhos.
 
Chega fantasiado de sorrisos, de vozes antigas, de doces suspiros. Deixa rastro de sangue, suor e lágrimas. É terra de ninguém. Deserto escaldante, geleira. Se jardim, há que se ter cuidado dobrado. É o jardim e também é a serpente que se enrosca à árvore do bem e do mal.  Sempre à espreita. Te oferece o fruto dourado proibido. Faz chamego, te engana e te devora. Se não te devora, te desterra para um vale de lágrimas. 

Autor da pintura: Marc Chagall

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