sexta-feira, janeiro 09, 2009

Livros - O guarda chaves em O pequeno Príncipe

Bom dia, disse o principezinho.
- Bom dia, respondeu o guarda-chaves.
- Que fazes aqui! perguntou-lhe o principezinho.
- Eu divido os passageiros em blocos de mil, disse o guarda-chaves. Despacho os trens que os carregam, ora para a direita, ora para a esquerda.
E um trem iluminado, roncando como um trovão, fez tremer a cabine do guarda-chaves.
- Eles estão com muita pressa, disse o principezinho. O que é que estão procurando?
- Nem o homem da locomotiva sabe, disse o guarda-chaves.
E trovejou, em sentido inverso, um outro trem iluminado.
- Já estão de volta? perguntou o principezinho...
- Não são os mesmos, disse o guarda-chaves. É uma troca.
- Não estavam contentes onde estavam?
- Nunca estamos contentes onde estamos, disse o guarda-chaves.
- E um terceiro trem, iluminado, trovejou.
- Estão perseguindo os primeiros viajantes? perguntou o principezinho.
- Não perseguem nada, disse o guarda-chaves. Estão dormindo lá dentro, ou bocejando. Só as crianças esmagam o nariz nas vidraças.
- Só as crianças sabem o que procuram, disse o principezinho. Perdem tempo com uma boneca de pano, e a boneca se torna muito importante, e choram quando a gente toma...
- Elas são felizes... disse o guarda-chaves.
Comento: No Brasil se dá relevância aos livros ao se saber quem os lê. Como se os livros não fossem de todos e não devessem ser "espalhados a mãos-cheias", como disse o poeta (Bilac? Coelho Neto? Confirmo depois). Pois bem, o pequeno príncipe foi estigmatizado durante muitos anos como o livrinho das misses. Era assim: no Concurso Miss Brasil que nas décadas de 50 e 70 era acontecimento nacional, depois da apresentação da candidata sempre tinha a pergunta: Qual o seu livro preferido? E invariavelmente a resposta era: - O pequeno príncipe. Na década de 70, resolveu-se que concursos de miss eram bregas e tudo que lhes dissessem respeito também. Sobrou pra Saint-Exupery...

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