quinta-feira, janeiro 08, 2009

Eu escrevo muito, escrevo quase nada... ou Futuros Amantes ...

Confesso que uma certa compulsão pela pergunta, pelo registro define o que eu sou. Perguntas eu as dirijo tanto pra fora como pra dentro. Já filosofando: toda a pergunta contém a resposta. Na verdade, só conseguimos perguntar pelo que intuitivamente já sabemos. Não existem perguntas sobre o vazio. Deus existe? - já  remete a infinitas outras perguntas e respostas que só sobrevivem porque há espaço para esse mistério em nossas vidas.

Bem, o que eu quero dizer é que o comentário do André Dantas, que conheço do Sebrae, tocou meu coração. Ou melhor, me deu a resposta que intuitivamente eu já conhecia, mas esperava ouvir do meu próximo no sentido bíblico, do outro que também sou eu. O comentário sintetiza vários recebidos nesta virada do ano, de gente que nem está no Brasil, de gente que faz décadas que não vejo, de gente que prefere me mandar e-mail do que aparecer comentando.

Todos disseram ter sentindo nos meus posts alegria de viver, atenção pelo detalhe ou pelo que parece pequeno, mas que dá relevância ao todo. Sou jornalista. Meu trabalho é ficar ligado aos fatos. Mas propositadamente não quero escrever sobre o que se entende por notícia. Já tem blogs demais fazendo isso e apressadamente. Estamos pelas tampas de notícias em tempo real. Política muda como nuvens empurradas por ventos que não cessam de dar-lhes e tira-lhes a forma. Entretanto, enquanto o vento faz o seu trabalho, já pipocaram nas telinhas milhares de informações que não resistem ao próximo minuto e que juntas não fazem sentido, não nos ajudam a formar uma opinião razoável sobre o que pressupomos relevante. São como milhares de fotos de nuvens carregadas incapazes de nos dar o tamanho da tempestade que se avizinha.

Às vezes me sinto culpada. Se alguém ler esses registros daqui muitos anos - o que está na net parece que estará pra sempre - pode achar que eu estava me lixando pelo que acontece em Gaza, pelos desabrigados da chuva, ou pela criança que morreu, a milésima, de bala perdida. Mas, os menos apressados entenderão que milhões de coisas acontecem ao mesmo tempo. E este Blog registra as que me ajudam e que ajudam pessoas como o André a viver neste mundo da melhor forma possivel.
Ao escrever este post me lembrei do Futuros amantes, do Chico Buarque, uma música que amo muito:
Não se afobe, não
Que nada é pra já
O amor não tem pressa
Ele pode esperar em silêncio
Num fundo de armário
Na posta-restante
Milênios, milênios
No ar

E quem sabe, então
O Rio será
Alguma cidade submersa
Os escafandristas virão
Explorar sua casa
Seu quarto, suas coisas
Sua alma, desvãos

Sábios em vão
Tentarão decifrar
O eco de antigas palavras
Fragmentos de cartas, poemas
Mentiras, retratos
Vestígios de estranha civilização

Não se afobe, não
Que nada é pra já
Amores serão sempre amáveis
Futuros amantes, quiçá
Se amarão sem saber
Com o amor que eu um dia
Deixei pra você
Ilustração: Picasso 1958

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