quarta-feira, junho 25, 2008

Mulheres dando o tom

Quando comecei, o jornalismo era uma profissão predominantemente masculina. Na Política já havia algumas mulheres dando o tom. Mas, na Economia, em 1977, éramos pouquíssimas e começamos praticamente juntas: eu, Cláudia Safatle, Miriam Leitão (esta começou mais cedo no Espirito Santo), a Maria Clara R.M. do Prado, a Lílian Vite Fibe. (Relendo, vi que a memória me traiu um pouco, a Míriam que foi minha colega na Universidade de Brasília, cobria, no início, em Brasília, o Ministério das Relações Exteriores.)

Quando, em 1979, Delfim Neto foi nomeado ministro da Agricultura (governo Figueiredo) eu era a única mulher cobrindo a área. Pela importância política da Pasta, os jornais colocaram dois setoristas: uma para cobrir as artimanhas do Delfim e outro para os assuntos agrícolas propriamente ditos. Eu trabalhava no Diário do Comércio e Indústria (DCI) de São Paulo e não tinha par que me ajudasse. Cobria tudo sozinha. E ainda tinha a má vontade da assessoria.

Por ser a única mulher, nunca era convidada para reuniões na casa do ministro, sempre à noite, onde o uisque corria solto e os repórteres colhiam as manchetes do dia seguinte. Invariavelmente o recado que o Delfim queria passar, sempre em queda de braço com o ministro Simonsen, do Planejamento. A briga entre desenvolvimentistas e fiscalistas já estava posta.

Conversando com a Míriam, comentei a dificuldade de se trabalhar nesse esquema de Clube do Bolinha. E ela colocou na coluna da Gazeta Mercantil Nomes &Notas, que tinha repórter sendo discriminado, na Agricultura, por ser mulher. No outro dia, um dos assessores do Delfim falou comigo:

- Olha, Clara, não é nada disso. É que são reuniões para bebericar e conversar fiado. O ministro mora sozinho aqui em Brasília. Se a mulher dele morasse aqui, você seria convidada!

- Sim, seria, então, convidada, para conversar com a mulher do Delfim? Não estou enteindeindo!!!!

Nem é preciso dizer que continuei não sendo convidada para esses papos exclusivamente masculinos, segundo eles. Sei que sobrevivi à concorrência. Depois eu conto como foi o dia que o Delfim deixou de ser ministro da Agricultura para ocupar o Planejamento com o grito de guerra: "Vamos crescer " e o apoio de toda a FIESP.

Bem, terminando pelo começo: Na Agência Sebrae de Notícias somos quase um clube da Luluzinha. Mas os meninos são sempre benvindos.

2 comentários:

  1. Essas são as minhas amigas, irmãs, confidentes...Essa é a minha família ASN! Amo todas!!!

    Bjks, Xeyla

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  2. Clarinha, adorei a foto e mais ainda a sua história de desbravadora de um mundo antes dominado pelos homens. Realmente deve ter sido muito difícil. Para a minha geração de meninas/mulheres foi bem mais tranqüila essa relação já que desde a faculdade as mulheres já eram a maioria. Beijão!

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