
Ainda não tinha completado 50 anos
Nos últimos anos de vida, mesmo sem ser tão velho, em torno de 65 anos, meu pai, já viúvo, com a mente estimulado pelos remédios que tomava sem atentar para a quantidade e horários, encucou que, nós, os filhos conspirávamos contra ele. O motivo: tentávamos impedir que ele vendesse tudo o que tinha em Brasília e comprar uma fazenda no Espírito Santo... quando, doente, não tinha condições nem de respirar de jeito.
O causo que o meu primo conta abaixo, ilustra bem este momento conturbado que vivíamos em família. Só não sabia que o problema tinha extrapolado as paredes de nossas próprias casas. Hoje, pensando bem, devíamos tê-lo deixado a mercê dos seus desvarios. Mas o amávamos demais e nos sentíriamos culpados se não tentássemos desviá-lo das idéias insanas que tinha. Idéias que iam e vinham numa rapidez enlouquecedora para nós, ainda muito jovens, mas já com responsabilidades pessoais de trabalho e filhos. Mas vamos ao causo:
Clara,
um dia tocou o telefone em casa e era o Tio Dário:
- Vem cá depressa, aconteceu uma confusão, muita discussão com meus filhos. Preciso de você aqui agora. Olha, passa na Lurdes e traga ela também. Não demora, viu?
Fiquei encucado. Liguei para Tia Lourdes e ela havia recebido o mesmo telefonema e achado o irmão muito nervoso. Passei na Tia e sem grandes demoras, mas também sem aquela pressa toda ordenada pelo General, chegamos na SQN 104.
Quando entramos ele deu um baita dum sorriso, como se tivesse chegado o seu exército de defensores:
- Sentem aí, vão passar a tarde comigo.
- O que aconteceu, Dário?
- Uma discussão e das grandes, os meus filhos podem chegar aqui a qualquer momento e eu preciso da ajuda de vocês e mostrar pra eles que eu também tenho força.
Minha posição foi deixar os dois irmãos conversarem, mas não saiu mais nada a não ser uma outra ordem para a Tia Lourdes fazer um café. A Tia ficou muito nervosa e quando fui para a cozinha (queria ajudá-la, ficar perto dela) veio a terceira ordem:
- Fica aqui, que ela não precisa de ajuda. Tudo o que precisa para fazer o café, ela sabe que tá na cozinha....(machão mesmo, né?).
O café ficou pronto e eu ajudava a servir, quando o Tio Dário tomou o primeiro golinho e esbravejou:
- Puta que pariu Lurdes, que café ruim, não tem açúuuuuuucar!!!
Tia Lourdes não aguentou e disparou:
- Ô Dário, deixa de ser sem-educação, se voce gosta mais doce é só falar com jeito, não precisa gritar assim....
Silêncio total.
Mais 5 minutos na sala e Tia Lourdes me convidou para irmos embora porque precisava de fazer alguma coisa urgente. Lá fora disse:
- Não preciso fazer nada não, é que fiquei com raiva dele. Você viu que grosseria? O Dário tá ficando louco, imagina falar que os filhos querem brigar com ele, são uns doces os filhos dele......
Até a próxima
Um beijo do primo
Paulo Afonso
Em tempo: até hoje não fiquei sabendo o que aconteceu naquela tarde com o Tio e nem se aconteceu mesmo alguma coisa. Entrei quieto, saí calado e não entendi porra nenhuma.
Comento:
Minha querida tia Lourdes realmente sabia o irmão que tinha, um homem de grande talento e de bom coração, mas extremamente ciumento e autoritário! Ela e minha mãe eram grandes amigas.
O causo que o meu primo conta abaixo, ilustra bem este momento conturbado que vivíamos em família. Só não sabia que o problema tinha extrapolado as paredes de nossas próprias casas. Hoje, pensando bem, devíamos tê-lo deixado a mercê dos seus desvarios. Mas o amávamos demais e nos sentíriamos culpados se não tentássemos desviá-lo das idéias insanas que tinha. Idéias que iam e vinham numa rapidez enlouquecedora para nós, ainda muito jovens, mas já com responsabilidades pessoais de trabalho e filhos. Mas vamos ao causo:
Clara,
um dia tocou o telefone em casa e era o Tio Dário:
- Vem cá depressa, aconteceu uma confusão, muita discussão com meus filhos. Preciso de você aqui agora. Olha, passa na Lurdes e traga ela também. Não demora, viu?
Fiquei encucado. Liguei para Tia Lourdes e ela havia recebido o mesmo telefonema e achado o irmão muito nervoso. Passei na Tia e sem grandes demoras, mas também sem aquela pressa toda ordenada pelo General, chegamos na SQN 104.
Quando entramos ele deu um baita dum sorriso, como se tivesse chegado o seu exército de defensores:
- Sentem aí, vão passar a tarde comigo.
- O que aconteceu, Dário?
- Uma discussão e das grandes, os meus filhos podem chegar aqui a qualquer momento e eu preciso da ajuda de vocês e mostrar pra eles que eu também tenho força.
Minha posição foi deixar os dois irmãos conversarem, mas não saiu mais nada a não ser uma outra ordem para a Tia Lourdes fazer um café. A Tia ficou muito nervosa e quando fui para a cozinha (queria ajudá-la, ficar perto dela) veio a terceira ordem:
- Fica aqui, que ela não precisa de ajuda. Tudo o que precisa para fazer o café, ela sabe que tá na cozinha....(machão mesmo, né?).
O café ficou pronto e eu ajudava a servir, quando o Tio Dário tomou o primeiro golinho e esbravejou:
- Puta que pariu Lurdes, que café ruim, não tem açúuuuuuucar!!!
Tia Lourdes não aguentou e disparou:
- Ô Dário, deixa de ser sem-educação, se voce gosta mais doce é só falar com jeito, não precisa gritar assim....
Silêncio total.
Mais 5 minutos na sala e Tia Lourdes me convidou para irmos embora porque precisava de fazer alguma coisa urgente. Lá fora disse:
- Não preciso fazer nada não, é que fiquei com raiva dele. Você viu que grosseria? O Dário tá ficando louco, imagina falar que os filhos querem brigar com ele, são uns doces os filhos dele......
Até a próxima
Um beijo do primo
Paulo Afonso
Em tempo: até hoje não fiquei sabendo o que aconteceu naquela tarde com o Tio e nem se aconteceu mesmo alguma coisa. Entrei quieto, saí calado e não entendi porra nenhuma.
Comento:
Minha querida tia Lourdes realmente sabia o irmão que tinha, um homem de grande talento e de bom coração, mas extremamente ciumento e autoritário! Ela e minha mãe eram grandes amigas.
Clara,
ResponderExcluiré a cara do seu pai!!!
Sempre polêmico!!
São tantas e tantas histórias.. Hoje em dia lembramos de todas elas com muito carinho... Mas algumas foram custosas à época.
Enfim, uma figura inesquecível!!!
Sueli
E apesar de já ir tão longe esse tempo, ainda somos afetados por suas bizarrices e excentricidades. Não vou chamar de loucura, pois teríamos que assumir a nossa própria. Afinal, a "genética é hereditária"!
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