sexta-feira, junho 20, 2008

Viagem & Conversa - Alma retirante....

Maringá, Maringá
depois que tu partiste,
tudo aqui ficou tão triste que garrei a imaginar...
Maringá, Maringá
volte aqui pro meu sertão
pra de novo o coração
desse cabloco assossegar.

Foi numa leva que a cabloca Maringá...
(Não sei a letra toda)

Aqui estou eu, em Maringá, norte do Paraná, cidade que leva o nome de uma música que meu pai gostava de cantar e assobiar.
Leio os comentários do Dante e do Paulo, e meu coração fica apertado.
Chorar não choro que estou aqui, num computador emprestado, no escritório que o Sebrae, tem na cidade.
Nunca mais viajo sem lap-top.
Como pode uma escriba como eu, que escreve desde os tempos dos faraós e, como eles, foi enterrada e renascida para outras tantas viagens, sempre neste mesmo ofício de ver, perguntar e registrar... como pode alguém como eu, com este fado, esta sina, estar viva e atuante, em 2008, e sem um lap top como companheiro dileto? Não sei responder a essa pergunta e apelo para que o meu irmão Dante providencie um urgente para mim...
Desde ontem estou com síndrome de abstinência de escrever, que só passou depois que, na espera do vôo, que me traria de São Paulo à Londrina, enchi uma cadernetinha de anotações para futuros posts.

Mas vou parar de divagar e aqui fazer jus, ao título deste: Alma retirante.
Corre nas nossas veias uma alma cigana, gulosa de ver e saber. Não basta ser por livros, nem pela internet... tem que ser ali, in loco, com o sol estourando os miolos ou neve congelando os tutanos.

Somos, assim: muitos dos Favillas,muitos dos Pellicanos, Marcilios e também Amorins e Tavares. Os Favillas aconteceram no Brasil por causa de uma briga familiar, não por necessidade. Meu avô Pelicano chegou no Brasil de paletó e gravata, relógio de outo, representante da Singer, os Marcilios para fugir da miséria, como imigrantes. Quanto aos Amorins e Tavares, pelo que sei dos primeiros eram donos de quintas em Portugal.

- Os Marcílios e Cecons vieram fazer a América, recolher ouro com pá", dizia minha Vó Ina.

Em vez disso, foram trabalhar em cafezais do sul de Minas e aprederam a comer feijão com farinha. Minha bisa Tereza, quando viu chegar um saco de feijão e outro de farinha, no casebre que lhe destinaram na rua dos colonos da fazenda, disse: grano e formaggio? Mas um saco inteiro de formaggio ralado? Seria muita fartura...

Pois bem, quando minha mãe chegou à Brasília, mais uma vez retirante, atrás do marido, com dois filhos pequenos, deixando as meninas com parentes em Minas, já tinha morado com marido e filhos, em Francisco Sá; em quatro casas diferentes de Ouro Fino, conforme a grana disponível; em duas de São Paulo e em outras três casas de Arapongas, também de acordo com a grana disponível.

De mudança para a capital moramos no Plano, em Sobradinho, em Taguatinga e 312 Norte quando era era uma quadra perdida no meio do cerrado e a W3 Norte nem iluminação tinha. Quando mudamos para a 104 Norte, a quadra não tinha comércio local, não estava urbanizada e nem arborizada, era um barreiro só.

Lembro-me de minha mãe dizendo:
- Isso aqui vai ficar bom. Tô cansada de sair dos lugares quando eles ficam bons. Quando chegamos à Arapongas as ruas da cidade ainda estavam sendo traçadas, os pinheiros sendo derrubados. Quando ficou bom, tivemos que mudar. E assim foi também aqui em Brasília. Daqui deste apartamento da 104 só saio pro cemitério.

E assim foi.


Pergunto a minha irmã Vera: Por que mudamos tanto, depois de casadas, de uma casa para outra em Brasília. E faço um convite: vamos dar uma sossegada?

Beijos a todos os meus leitores, que já são muitos.

Um comentário:

  1. Eu sosseguei! Já estou no mesmo lugar há 20 anos. Já criei limos, raízes e toda sorte de trepadeiras parasitas. Mas uma coisa eu digo: daqui eu não saio morto! Quero mais.

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