Luciano, o pai de Leda Flora e Iara Selva, nasceu em Tocantins. Aos cinco anos, tinha era a de arrancar matinhos em volta dos pés de rosinhas meninas dos canteiros que o avô havia feito. Bem em frente ao quarto de dormir da avó. Ela queria tanto um pedacinho do céu na terra. Canteiros eram estrelas grandes e pequenas e muitas meia-luas
Rosinhas meninas nunca adolescem, nem se tornam moças feitas ou senhoras respeitáveis. São tão miudinhas e de mínimos botões que qualquer graminha fora de hora e lugar pode escondê-las. E pedacinho de céu é coisa séria. Ervas daninhas ou que escondam a beleza, nem pensar! "Rosas meninas, nascem, vivem e morrem meninas. São as princesinhas do Reino das Rosas", diz Luciano.
O pai da Leda Flora, aos 92 anos, ainda lia e escrevia todos os dias. Foi desses senhores de pele de veludo, elegantes, de roupa perfeita e que trazem no bolso da camisa de mangas compridas, é claro, uma caneta. Não daquelas vagabundas de hotel, como as que o ex-ministro Pedro Malan usava, só para chatear o Mercadante. O senador se deu mal quando o acusou publicamente de assinar atos sovinas de bloqueio de gastos com uma Monblanc.
No bolso da camisa, sempre de mangas compridas de Luciano, uma caneta bonita, marca de valor. Senhores assim falam o português correto, usam sem qualquer pedantismos palavras que já esquecemos. Meu pai também gostava muito de suas ferramentas de trabalho. Não só canetas, mas também lapiseiras. No meu aniversário, há alguns anos, ganhei uma Parker de presente. Já perdi.
Pra quem está perdido na geografia, a cidadezinha de Tocantins fica perto de Ubá, Piraúba, Rio Pomba e Dores do Turvo. Zona da Mata. Lá onde Minas já se encosta, não só a São Paulo. Também ao Rio de Janeiro. No século passado, antes dos anos 1960, os que nelas nasciam, se tivessem chances de mais estudos, escapavam para a capital, não a do estado, mas a do Brasil. Viveriam de favor na casa de parentes ou pensões baratas até virar gente com diploma, emprego certo, família e tudo mais. Foi o que aconteceu com Luciano. Já advogado e família formada despencou para viver o sonho chamado Brasília quando a cidade era quase só um desenho no cerrado do Planalto Central.
Nenhum comentário:
Postar um comentário