Num sábado de maio de 2014, estive na Oficina do Perdiz, na 708 Norte, o último vestígio da Asa Norte de madeira que existiu um dia. Foi erguida há 48 anos, em área pública, pelo mineiro de Araguari, José Perdiz, quando os lotes comerciais da área sequer estavam bem definidos. E vinha, até então,ali resistindo. Preparava-se para, enfim, trocar o grande barracão, por um espaço bem normal, mas legalizado, na mesma Asa Norte.
O Sr. Perdiz, 82 anos, não me pareceu nem alegre, nem triste. Mostrou-se foi preocupado com os rumos dos humanos deste mundo. "Os animais são mais solidários, mesmo os que os chamamos de fera são capazes de alimentar e adotar filhotes dessemelhantes", me disse.
A oficina do Perdiz é daquele tipo de negócio que já quase não existe mais. Esculpe peças a partir de metais reciclados. O interior pode ser definido como uma sucessão de instalações artísticas. Fico imaginando, o que poderá ser transportado ao novo local. O que de fato caberá lá. Como será armazenado tanto 'lixo" valioso, passível de reciclagem.
O local já viveu dias gloriosos no cenário artístico de Brasília. Um sobrinho do proprietário, falecido prematuramente, aluno da Escola de Arte Dulcina pediu certa vez, o espaço para encenar uma peça. Dali em diante os eventos se sucederam. Muito teatro, muita música.
O Sr. Perdiz transformou a oficina também em teatro de arena. Os restos das arquibancadas ainda sobrevivem, assim como parte dos bastidores feitos de lâminas de compensado. Foi um presente conversar , naquele sábado, com O Sr. Perdiz, poder fotografá-lo. Tudo tão impregnado da melancolia própria do tempo que passa.
Em junho deste ano, o Sr. Perdiz, com presença de autoridades, fez a abertura simbólica, regada a chorinho, em junho passado, da nova sede do projeto que continuará levanto seu nome. A construção foi possível graças a uma conciliação mediada pelo Ministério Público do Distrito Federal e Territórios, iniciada em 2002. Os vizinhos da antiga área ocupada pelo teatro se comprometeram a construir a estrutura em uma nova quadra, onde Perdiz também poderá continuar com a oficina de torneiro mecânico. A inauguração, de fato, do novo espaço acontecerá até o fim do ano.
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