Ouro Fino (MG) - Inverno

Hoje fui visitar uma de minhas tias por afinidade aqui em Ouro Fino. E ela não se lembrou de mim. Mas me disse que eu parecia com a Elza, minha mãe. Lembrou-se das duas filhas de Elza e não me ligou a nenhuma delas.

Estava de boa aparência, bem vestida e de unhas feitas e mostrou não ter suavizado o defeito de registrar coisas desagradáveis sobre quem a visita, mesmo que de década em década. Deixou claro várias vezes que eu estava acima do peso e que deveria tomar providências a esse respeito. Também não teve sensibilidade para tratar de assuntos delicados para a pessoa que me acompanhava. Essa tia sempre foi assim, mas nunca nos incomodamos com isso. Mas desta vez foi diferente. Talvez porque eu também tenha chegado ao que se convencionou chamar de certa idade.

Não me perguntou nada sobre mim, nem sobre meus irmãos, não se lembrou de nada de especial que tenha vivido com meus pais. E olhem que eram grandes amigos! Nem lamentou a morte prematura de minha mãe. Mas falou, falou e falou sobre tudo o que lhe interessava. Tudo com muito nexo. O telefone tocou e ela disse que estava com visitas. Disse que era a filha da Elza. Mas como não me perguntou nada, nada terá pra contar depois. Bem... exceto que estou bem gordota.

Quando fizemos menção de sair, pediu-nos que ficássemos um pouco mais, que poderia fazer um cafezinho, que gostava de conversar porque ficava muito sozinha. Ficamos. Ela continuou não querendo saber nada, nadinha de mim. Mas conseguiu aborrecer mais um pouquinho minha acompanhante com aquele tom de voz meiguinho, como se não estivesse falando nada demais.

Na hora do adeus, me despedi dando-lhe um demorado abraço. Ela me lembrou mais uma vez que eu estava acima do peso. Bem que poderia ter agradecido o abraço fofo. E, pra terminar, a pérola: da próxima vez que você voltar a Ouro Fino, esta tua tia não estará mais por aqui, já terá embarcado para melhor.

Foto:Lago em frente à casa dos meus primos Zé Américo e Ângela
Ouro Fino, Sul de Minas