Nem sempre ou quase nunca nossos irmãos são nossos melhores amigos, companheiros dessa viagem chamada vida. Mas certamente tio Ângelo foi o maior amigo das irmãs Teresa, Nair, Elza e Isolet que, quando perderam o pai, tinham dezoito, dez, sete e dois anos. Tio Ângelo quase 13. Foi o braço direito da minha avó Ina na cozinha, nos afazeres da casa e no cuidado dessas minhas tias e do irmão mais novo de todos, Zézinho, que ficara órfão aos seis meses.
Tio Ângelo sempre esteve junto das irmãs em momento importantes, felizes e tristes. Imagino-o tomando com minha mãe o trem que os levaria de Ouro Fino para Francisco Sá. Uns doze quilômetros apenas separam as duas estações. Os vagãos, nas décadas de 40 e 50, são puxados por Marias Fumaças, que apitam a cada curva da estrada para espantar bois e cavalos da linha férrea.
Ângelo e Elza munidos de vassoura, rodo, balde de alumínio, pano de chão, descem bem cedo na pequena estação de Francisco Sá, hoje demolida. Sobem o morro em direção a sede administraiva da fazenda, onde meu pai trabalhava e, depois até a casa mais ao lado onde morariam.
Jogam água em tudo que fica limpo e brilhando. Cobrem a cama com o melhor lençol e a mais linda colcha do enxoval. O baú da noiva veio antes. Vestem fronhas de monogramas bordados nos grandes travesseiros. Naqueles tempos, quando se casava os travesseiros mudavam de status: de retangulares, pequenos e compactos, passavam a ser fofos, de penas as mais macias e miúdas, e quadrados.
Na penteadeira e mesinhas de cabeceira, toalhinhas de crochê branquinhas e engomadas. Na mesa de jantar uma toalha grande também de crochê com um vaso no centro. Mais uma toalha sobre o filtro de barro para a água de se beber. Lenha cortada perto do fogão. Um estoque de palha seca de milho pro fogo pegar rápido e não atrasar o primeiro café do dia.
Antes da saída, conferem se no armário da cozinha já estavam: pilão de socar alho, peneiras de vários tamanhos, espremedor de batata, que o Dário gosta de purê, faca de pão, coador de chá, coador de café, tudo que não se ganha de presente de casamento. Se tem lamparinas suficientes em todos os cantos da casa, que a luz acaba cedo.
A mãe fez um estoque de sabão de cinza de lavar roupa e panela e até de se tomar banho. Se tem sabonete dos bem perfumados, pasta de dente, cibalena pra dor de cabeça, bomba e lata de detefon pros pernilongos. Uma tábua suspensa bem em cima do fogão à lenha para deixar a prova de atrevidos o queijo cura, linguiça caseira e panceta. Tapetes dos grossos, de limpar sapatos e pés, nas portas da sala e na cozinha. Se as plantas da varanda receberam água. Se na despensa tem o necessário e o impossível de se comprar na venda da roça.
E vamos depressa, depressinha, que o último trem pra Ouro Fino passa loguinho. Amanhã é véspera de Natal, dia do casório. O trem vara a paisagem. Ângelo pensa nos retoques por fazer do bolo branquinho de Elza. Leitões e frangos tão à espera do juízo final. Será um casamento diferente. A festa começa já no almoço, antes da cerimônia do sim. Os convidados comerão até se fartar ainda sem os trajes de gala. E todos irão à Igreja pouco sóbrios, até a noiva. As amigas vestem a noiva que não para de rir. Depois da Igreja a festa continua. Hora de partir o bolo e comer docinhos.
Tio Ângelo sempre esteve junto das irmãs em momento importantes, felizes e tristes. Imagino-o tomando com minha mãe o trem que os levaria de Ouro Fino para Francisco Sá. Uns doze quilômetros apenas separam as duas estações. Os vagãos, nas décadas de 40 e 50, são puxados por Marias Fumaças, que apitam a cada curva da estrada para espantar bois e cavalos da linha férrea.
Ângelo e Elza munidos de vassoura, rodo, balde de alumínio, pano de chão, descem bem cedo na pequena estação de Francisco Sá, hoje demolida. Sobem o morro em direção a sede administraiva da fazenda, onde meu pai trabalhava e, depois até a casa mais ao lado onde morariam.
Jogam água em tudo que fica limpo e brilhando. Cobrem a cama com o melhor lençol e a mais linda colcha do enxoval. O baú da noiva veio antes. Vestem fronhas de monogramas bordados nos grandes travesseiros. Naqueles tempos, quando se casava os travesseiros mudavam de status: de retangulares, pequenos e compactos, passavam a ser fofos, de penas as mais macias e miúdas, e quadrados.
Na penteadeira e mesinhas de cabeceira, toalhinhas de crochê branquinhas e engomadas. Na mesa de jantar uma toalha grande também de crochê com um vaso no centro. Mais uma toalha sobre o filtro de barro para a água de se beber. Lenha cortada perto do fogão. Um estoque de palha seca de milho pro fogo pegar rápido e não atrasar o primeiro café do dia.
Antes da saída, conferem se no armário da cozinha já estavam: pilão de socar alho, peneiras de vários tamanhos, espremedor de batata, que o Dário gosta de purê, faca de pão, coador de chá, coador de café, tudo que não se ganha de presente de casamento. Se tem lamparinas suficientes em todos os cantos da casa, que a luz acaba cedo.
A mãe fez um estoque de sabão de cinza de lavar roupa e panela e até de se tomar banho. Se tem sabonete dos bem perfumados, pasta de dente, cibalena pra dor de cabeça, bomba e lata de detefon pros pernilongos. Uma tábua suspensa bem em cima do fogão à lenha para deixar a prova de atrevidos o queijo cura, linguiça caseira e panceta. Tapetes dos grossos, de limpar sapatos e pés, nas portas da sala e na cozinha. Se as plantas da varanda receberam água. Se na despensa tem o necessário e o impossível de se comprar na venda da roça.
E vamos depressa, depressinha, que o último trem pra Ouro Fino passa loguinho. Amanhã é véspera de Natal, dia do casório. O trem vara a paisagem. Ângelo pensa nos retoques por fazer do bolo branquinho de Elza. Leitões e frangos tão à espera do juízo final. Será um casamento diferente. A festa começa já no almoço, antes da cerimônia do sim. Os convidados comerão até se fartar ainda sem os trajes de gala. E todos irão à Igreja pouco sóbrios, até a noiva. As amigas vestem a noiva que não para de rir. Depois da Igreja a festa continua. Hora de partir o bolo e comer docinhos.
Clara, minha nãe sempre dizia que o tio Ângelo foi o seu melhor amigo. Ele mesmo me disse que quando veio visita-la no hospital já no seu fim,as suas palavras foram:-Ângelo! Meu melhor amigo!portanto não foi só o melhor amigo das irmãs,foi e é o melhor amigo de todos que cruzaram e cruzam seu caminho.
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