quinta-feira, junho 18, 2009

Viagem & Conversa - O circo chegou!


Hoje tem marmelada?Tem, sim senhor!Hoje tem goiabada?Tem, sim senhor!E o palhaço, o que é?É ladrão de mulher! Em Ouro Fino,  sul de Minas Geraais, o circo chegava de trem... e eram vagões e mais vagões de carga repletos de gente, bichos e lona... E já chegava com o mestre de cerimônia, derramando aos gritos, num megafone, elogios à cidade. Convocava adultos e crianças para a grande festa que, conforme a platéia aumentava ou diminuía, poderia durar dias ou semanas.
Circo, August Macke, 1913.

Bom mesmo era ver a montagem do circo. A grande lona subindo.Os animais em suas jaulas. Ferozes tigres de Bengala, amáveis cachorrinhos bailarinos ou insuportáveis miquinhos que só se mostravam amestrados com o chicote do domador tirando faísca da calçada... Naqueles tempos não existia o politicamente correto e nós crianças achávamos que animais não sofriam enjaulados, que estavam ali para se exibir ao mundo.

Nos circos de antigamente, bailarinas acrobatas montavam lindos cavalinhos brancos de longas crinas trançadas em fitas e não faltavam famílias inteiras de anões e tipos bizarros, homens altíssimos e magros, bruxas assustadoras e ferozes capatazes que faziam tudo funcionar a tempo e a hora...

As mães buscavam proteger suas crianças do feitiço que o Circo emanava.. Criança que ficasse sozinha ou em turma rondando a grande lona , à espreita do que acontecia lá dentro de dia, podia ser raptada quando os artistas fizessem as malas. Que não confiássemos em ninguém daquele mundo. Palhaços não eram amigos das crianças, as encantavam para depois raptá-las. E eram das crianças raptadas o trabalho mais duro, o de limpar o picadeiro e tratar do animais. Donos de circo também eram pessoas cruéis que espancavam bailarinas e as deixavam passar fome, por isso eram tão magrinhas.

E são sempre assim histórias de circo, não é mesmo? Palhaço não é feliz, é triste. O filho morreu e foi obrigado, mesmo assim, a fazer espetáculo, a divertir a platéia. A mulher fugiu com outro, mas não lhe levou o sorriso pintado na cara. No circo, a vida real desfila em música, acrobacias e saltos mortais. E nada é mesmo o que parece ser. As histórias aterradoras de nossos pais é a forma que têm de nos fazer enxergar por detrás da aparência, de dar o desconto, de fazer os nove fora, de relativizar o que nos acontece de bom e de ruim, de nos ensinar a sobreviver.
Bem, assim os justifico. Mas no meu tempo de criança, acho mesmo que era um esporte dos adultos o de aterrorizar crianças com todo o tipo de histórias, das mais sanguinárias e macabras.

Nenhum comentário:

Postar um comentário