Viagem & Conversa - Adeus Pituxa

Uma cachorrinha magricela, branquinha, de pernas compridas e olhos clarinhos, reinou três anos na Família Favilla/Dan : a Pituxa. O nome foi dado pelo Victor, meu sobrinho, logo que ela chegou da fazenda da Tia Vera. Sempre há alguém que se diz dono do bichinho da casa. Mas a Pituxa era do Victor, da Lulu, da Cibele e do Dário. Era um pouco minha também. Para falar a verdade fazia parte da nossa família ampliada.

Nunca vi bebê cachorro tão mimado e comportado. Era branquinha que nem leite, com uma mancha cor de mel em parte do rosto. Tomava banho de chuveiro, que nem gente. Tinha uma casinha pros dias de frio, feito com capricho pelo meu irmão Dário, mas gostava mesmo era de dormir na cama do Victor. Tinha pediatra, carteira de vacinas, comia do bom e do melhor e era a única dos aus-aus da família que participava das nossas comemorações do Natal e da Páscoa.

No Natal chegava em minha casa toda produzida, de gorrinho de papai Noel e tudo. Um dia chegou com botinhas especiais para proteger as patinhas do frio e da umidade. Na última Páscoa, a Pituxa entrou na lista de sorteio de uma grande cesta de ovos e chocolates variados, trazidos pela tia Vera. Sortuda, ganhou! Sob protestos do tio Dante e do Filipe, é claro, porque o consenso é sempre difícil nas famílias. Ganhou e levou. Lulu, mais que depressa se encarregou de proteger a cesta dos que reclamavam que cachorro não era gente e, por isso, não poderia ter entrado no sorteio.

Como não era gente? Que coisa! Pituxa era gente e mais que isso: gente fina! Era travessa também, mas travessuras que não faziam mal a ninguém. Antes do sorteio, por conta própria, havia comido, de sobremesa, parte do ovo da tia Vera. Claro! A Pituxa sabia que a tia Vera, por excesso de fofura, não pode ficar facilitando no doce. Enquanto isso, a Pituxa, podia comer o que e quanto quisesse, sem nunca perder o jeito magrelo e as pernas compridas de top model.

Não tinha quem não amasse a Pituxa. Eu mesma, tendo em casa a Naná, a Mel (irmã da Pituxa) e Frederico, amava e continuarei amando esta cachorrinha/gente que um dia aportou na nossa família.

Não faz muito tempo, Dário, Cibele, Victor e Lulu foram para a praia, em férias, e Pituxa mudou-se de mala e cuia pra minha casa. Chegou com sua casinha, cobertor e pratinhos de água e comida. Foram dias muito especiais. Enquanto eu estava no trabalho, ela ficava no jardim da frente. Era educada demais para se misturar com os cachorros da casa. De noite, assim que eu chegava, ela passava pra dentro. Assistia televisão comigo e, quando eu apagava a luz pra dormir, não precisava falar nada. Ela ia diretinho pro cantinho dela. Uma fofura de menina, essa Pituxa!

Pois bem, ontem o Victor me ligou chorando. Pituxa morreu durante a operação para corrigir um problema de articulação em uma das pernas. Uma operação trivial. Mas o problema foi a anestesia. Morreu, de repente, do coração. Eu e Victor choramos juntos ao telefone. Hoje pela manhã, fiquei refletindo, Pituxa morreu sem sofrer. Já pensou termos que assistir aquela fofura arrastando as perninhas, chorando de dor. Se isso não é muito consolo, pelo menos sabemos, temos certeza, de que ela, enquanto viveu, foi muita amada. Poderia ter sido uma vira-lata qualquer; tido sarna, carrapato, fome, frio, ter apanhado de gente má. Não, teve uma vida curta mas muito boa, sempre teve tudo que muita gente nunca teve: casa, comida e... principalmente amor. Além disso, certamente há no céu lugar especial para cachorros e para lá Pituxa foi levada por anjinhos sapecas.

Saudades eternas,
do Victor, Lulu, Cibele, Dário, tia Clara, Bebel e também das famílias do tio Dante e da tia Vera.