Todas as vezes que venho à Ouro Fino, uma das minhas preferidas alegrias é a de revirar as gavetas das pesadas cômodas da casa de fazenda da minha prima Ângela. Guardam tesouros construídos ponto por ponto com paciência e arte, em tardes suspirosas quando o mais pesado das tarefas domésticas havia sido cumprido.
Cuidar da casa e de pencas de filhos eram verdadeiros rituais cumprido com a seriedade de uma lturgia e regidez sofrida de horários. Levantava-se muito cedo para fazer o café. A cinza que encobria as brasas era abanada até que que o fogo levantasse e tomasse conta dos gravetos bem secos e depois de troncos mais fortes, guardados no vão embaixo o fogão à lenha.
Fogões a gás só começaram acontecer lá por 1956, 57. Assim mesmo, pormuito tempo ainda os fogões de lenha continuaram servindo a maioria das casas. Além da cara manutenção, trocá-los pelos alimentados à gás era um verdadeira revolução nos usos e costumes.
Como resolver a questão da comida continuar quentinha mesmo depois de algum tempo feita? E também, sem garrafas térmicas disponíveis como deixar o café no ponto de ser bebido a tarde inteira. Fogo apagado, as brasas continuavam mantendo a chapa do fogão aquecida, assim como a serpentina que levava a água para as torneiras da cozinha e banheiro.
Naqueles tempos, o café, comprado em grão no comercio ou vindo do sítio da família, era torrado no fundo do quintal. Uma arte que dependia de mãos habilidosas, olfato especial para determinar o ponto exato da torrefação, cabelos grudados de suor e rostos afogueados. Torrado, o café era guardado em vidros ou latas bem fechadas. Os grãos viraravam pó em moinhos manuais, grudados nos tampos das mesas. E a moagem era feita enquanto a água fevia. Ninguém guardava café moído porque perdia aroma e sabor.
O que conto aqui, é apenas um centésimo da rotina diária. E é com espanto que constato: com tanto a fazer como sobrava ainda tempo para se tecer ponto a ponto colchas, toalhas, vestidos, blusas? E tudo tão delicado,quase sempre em branco ou bege... Bem pequenas éramos ensinadas na arte do tricô, do bordado e do crochê. Muitas também na da costura. Não tínhamos direito a bater papo ou ficar sentadas a descansar sem alguma coisa pra fazer com as mãos. Ouvir novelas de rádio, e mesmo depois as televisivas, nem pensar se não estivéssemos fazendo barras, chuleados ou caseados. Naqueles tempos do quase tudo feito à mão...
Fotos de algumas das peças de crochê da prima Ângela.
Ouro Fino
Sexta-feira, 21 de agosto de 2009
Cuidar da casa e de pencas de filhos eram verdadeiros rituais cumprido com a seriedade de uma lturgia e regidez sofrida de horários. Levantava-se muito cedo para fazer o café. A cinza que encobria as brasas era abanada até que que o fogo levantasse e tomasse conta dos gravetos bem secos e depois de troncos mais fortes, guardados no vão embaixo o fogão à lenha.
Fogões a gás só começaram acontecer lá por 1956, 57. Assim mesmo, pormuito tempo ainda os fogões de lenha continuaram servindo a maioria das casas. Além da cara manutenção, trocá-los pelos alimentados à gás era um verdadeira revolução nos usos e costumes.
Como resolver a questão da comida continuar quentinha mesmo depois de algum tempo feita? E também, sem garrafas térmicas disponíveis como deixar o café no ponto de ser bebido a tarde inteira. Fogo apagado, as brasas continuavam mantendo a chapa do fogão aquecida, assim como a serpentina que levava a água para as torneiras da cozinha e banheiro.
Naqueles tempos, o café, comprado em grão no comercio ou vindo do sítio da família, era torrado no fundo do quintal. Uma arte que dependia de mãos habilidosas, olfato especial para determinar o ponto exato da torrefação, cabelos grudados de suor e rostos afogueados. Torrado, o café era guardado em vidros ou latas bem fechadas. Os grãos viraravam pó em moinhos manuais, grudados nos tampos das mesas. E a moagem era feita enquanto a água fevia. Ninguém guardava café moído porque perdia aroma e sabor.
O que conto aqui, é apenas um centésimo da rotina diária. E é com espanto que constato: com tanto a fazer como sobrava ainda tempo para se tecer ponto a ponto colchas, toalhas, vestidos, blusas? E tudo tão delicado,quase sempre em branco ou bege... Bem pequenas éramos ensinadas na arte do tricô, do bordado e do crochê. Muitas também na da costura. Não tínhamos direito a bater papo ou ficar sentadas a descansar sem alguma coisa pra fazer com as mãos. Ouvir novelas de rádio, e mesmo depois as televisivas, nem pensar se não estivéssemos fazendo barras, chuleados ou caseados. Naqueles tempos do quase tudo feito à mão...
Fotos de algumas das peças de crochê da prima Ângela.
Ouro Fino
Sexta-feira, 21 de agosto de 2009
E eu nunca ouvi nehum deles reclamar de 'stress' ou coisa parecida, estavam sempre na luta e sempre felizes.
ResponderExcluirServem de lição para muitos de nós hoje em dia.