A morte de Jamil Bittar me fez pensar em um outro fotógrafo, Tadashi Nakagomi, bastante querido aqui em Brasília, responsável que foi pela formação de muitos profissionais do fotojornalismo, hoje em evidência nos principais jornais e revistas do Brasil.
Tadashi, morreu em 1988, num acidente estúpido de trânsito, provocado por um motorista bêbado. Tenho muitas fotos da Isabel tiradas por ele, em plantões de fim de semana na Esplanada e Palácio da Alvorada. Já pensei muitas vezes em organizar uma exposição com fotos de filhos de jornalistas feitas por Tadashi. Ele disparava sua máquina e, dali uns dias, nos entregava um envelope com cópias das fotos em tamanho grande.
Pesquisando no Google, encontrei uma única foto, mas suficiente para mostrar todo o talento em claro/escuro de Tadashi. A que fez para ilustrar matéria do Correio Braziliense sobre o escritor Samuel Rawet, que viveu e morreu em Brasília. Vinte anos depois da morte de Tadashi, a Veja, ao noticiar o relançamento de um dos livros de Rawet, republicou a foto. Como a matéria está disponível também on-line, a copiei abaixo, junto com a foto.
Livros
Canção do exilado
Canção do exilado
Pioneiro da ficção judaica no Brasil, Samuel Rawet
ganha uma edição digna de sua estranha obra
ganha uma edição digna de sua estranha obra
Tadashi Nakagomi/CB
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O judeu Rawet: "Não sou anti-semita, sou antijudeu" |
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Nascido em uma aldeia judaica próxima a Varsóvia, na Polônia, em 1929, tinha 7 anos quando imigrou com a família para o Brasil. Passou a infância nos arrabaldes do Rio de Janeiro, um cenário pobre e tropical muito diverso da paisagem que ele conhecera na primeira infância.
Rawet parecia condenado à inadequação, à vida nas margens e periferias. Embora tenha se naturalizado brasileiro em 1936 e seguido uma proveitosa carreira como engenheiro – integrante da equipe de Oscar Niemeyer na construção de Brasília, foi responsável pelos cálculos de concreto armado do Congresso Nacional –, morreu sozinho em sua casa, em Sobradinho, cidade-satélite de Brasília, em 1984.
Em grande parte publicada em edições pagas do próprio bolso, a obra de Rawet – uma estranha e extraordinária coleção de contos e ensaios – ainda ocupa uma posição marginal na literatura brasileira. Por muito tempo, ele foi um autor cultuado por pequenos círculos de conhecedores que escavavam sebos à procura de títulos como Contos do Imigrante e O Terreno de Uma Polegada Quadrada. Essa situação, felizmente, está mudando. A ficção de Rawet ganhou uma edição digna em 2004, com Contos e Novelas Reunidos, pela Civilização Brasileira. E agora a mesma editora está lançando Ensaios Reunidos (254 páginas; 40 reais), livro que permite uma perspectiva mais aprofundada do exílio existencial que o autor parece ter cultivado.
O leitor que está chegando agora à obra de Rawet fará melhor lendo primeiro os seus contos. Mais acessível e mais bem realizada do que a obra ensaística, a ficção de Rawet parece uma combinação impossível: o encontro do subúrbio carioca de Lima Barreto (escritor que ele admirava) com o shtetl (aldeia judaica) de Isaac Bashevis Singer (como Rawet, um judeu polonês que se exilou no Novo Mundo).
Os ensaios também apontam o estrangeirismo fundamental de Rawet, e o fazem de modo mais pessoal (por exemplo, nas confissões íntimas de Homossexualismo: Sexualidade e Valor), ainda que com menos arte (em muitos trechos, os ensaios abusam de um jargão filosófico existencialista que ficou datado). Especialmente perturbador é o texto que leva o pitoresco título de Kafka e a Mineralidade Judaica ou a Tonga da Mironga do Kabuletê. Há muito pouco sobre Kafka ali (assim como nada de específico é dito sobre Carlos Drummond de Andrade em Drummond: o Ato Poético). O texto é um raivoso (e em verdade impraticável) rompimento com a condição judaica. "Não sou anti-semita, sou antijudeu", diz Rawet, em uma distinção cujo sentido não é claro. Rawet seria tachado, sim, de anti-semita por causa dessas posições esquisitas. No entanto, ele foi o primeiro escritor a incluir uma voz judaica expressiva na literatura brasileira. A pátria de Rawet foi o mal-entendido.
Filósofo do mundo cão
"Vibro com o grito do vendedor de jornais. A camisa larga, solta, aberta, entra no café, ultrapassa a seção de frutas, biscoitos e cigarros, e junto às mesas lança sua pregação: um macaco serviu de parteira, uma velha trucidou a enteada por ciúmes, um fuzileiro deu machadadas no seu protegido em uma hospedaria da Lapa, um cantor famoso envolvido num escândalo de drogas e tráfico sexual ilícito. Porque há o lícito. Guardo o nome do vendedor de jornais: Elias Gomes. É bem mais importante do que muita besta erudita. É mais importante que qualquer filósofo."
Trecho do ensaio Homossexualismo: Sexualidade e Valor
...absolutamente
ResponderExcluirmuito boa a força
de expressão dessa foto
esse cara faz mágica
com a câmera fotográfica!...
abraço
Este comentário foi removido pelo autor.
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