Boca de pito...

Boca de pito, no dicionário caipirês, é aquele café que fica no bule, ali na boca do fogão à lenha, quando a comida depois de feita já foi retirada, mas a trempe ainda guarda o calor das brasas. Não é um café pra se tomar saboreando, mas pra se molhar a garganta e deixar o cigarro, quase sempre de palha, mais gostoso de ser tragado.

Não se passa café novo pra fazer boca de pito. Para fazê-la basta um tantinho assim de café, meio morno ou até meio grosso de tão requentado. Vi muita gente fazendo boca de pito apenas enxaguando a boca com o café e depois cuspindo o líquido fora. É que se fumava, nos meus anos de criança, muito mais que agora e se toda vez que se acendesse uma palha também tomasse um café caprichado, imagine o mal que a bebida acabaria fazendo ao estômago do fumante.

Por que me lembrei dessa expressão corriqueira na minha meninice, estando em Rio Quente? É que lá o Thiago ficou de anfitrião e de manhã, quando eu acordava, o café estava pronto pra ser tomado com biscoitinhos que Dona Ilce havia deixado pronto. Mas quando me servia, Thiago era econômico. A xícara vinha pela metade. Disse-lhe, então, que estava tomando meu café da manhã e não fazendo boca de pito. Thiago havia feito o café naquelas cafeteirinhas italianas, que deixam o café uma delícia, mas muito forte. Tipo do café de uma mão só, daqueles de se tomar sozinho, sem acompanhamento. Café da manhã ou da tarde com pão e manteiga ou biscoitinhos e pães de queijo precisam de xícaras grandes e de ser um pouco mais fraco.

Lembrei-me dos expressos que se toma na Itália. Se não pedimos um que seja luuuuungo, vem só menos da metade da xicarazinha. O líquido mal molha a garganta. Boca de pito.