sábado, junho 27, 2009

Lé com cré - Amor debaixo de chuva...

De dezembro a fevereiro sempre chove em Brasília. Assim, são dias mais de quase frio do que verão. Mas nunca choveu tanto quanto no verão de 1972/73, quando comecei a namorar o Zé. Naqueles tempos, jovens não tinham carros. Só começavam a tê-los quando trabalhavam e poupavam ou tinham condições de pagar as prestações.

Nosso primeiro carro mesmo, um fusca branco de segunda mão que compramos do colega jornalista Mozart só conseguimos depois de três anos de casados, em 1980, quando já tínhamos apartamento próprio, aquele da 316 Norte já descrito neste Blog. Quando jovens e solteiros, o único da turma que tinha carro era o Clodo: um fusca vermelho.

Acho que me apaixonei pelo Zé quando, num sábado pela manhã, na Universidade de Brasília, o vi recostado, folgadamente, no fusca do Clodo com um sorriso do tamanho do Minhocão, aquele prédio comprido, onde funciona a maioria dos cursos da UnB. Achei o Zé lindo. Minutos antes, havia sido lhe apresentada pela minha irmã Vera e... não havia reparado bem...

Aí o Zé com aquele jeito que lhe peculiar me apresentou o amigo;
- Este é Clodo que ganhou o Festival de Música do Ceub... sabe, com a música Sino, Sinal Aberto!!!

Não, eu não sabia. Não acompanhava, até então, o trabalho de nenhum artista de Brasília. Aí o Zé emendou:
- Quer carona?

Eu respondi que não. Primeiro porque eu já tinha carona. Segundo, porque achei muito estranho alguém me oferecer carona no carro que nem era dele e sem perguntar previamente ao amigo se podia. Mas assim era o Zé...

Naquele dia, 25 de novembro de 1972, nossos destinos cruzaram-se, não para sempre, mas por muitos anos. À noite, eu estava esperando um amigo para assistir o filme Ladrão de Bicicletas, na sala Funarte, e quem me aparece? O Zé, o Clodo e o fusca vermelho. O Zé, no banco do carona, quase faltou me raptar para uma festa que ele não sabia onde era e nem de quem. Claro que eu não fui. Mas dali em diante passamos a nos ver, como que por mágica, todos os dias, sem combinação prévia, até que em 24 de dezembro, depois da missa de Natal, na Igreja Consolata, começamos a namorar.

Chovia. Chovia. Chovia sem trégua. Eu e Zé andávamos a pé e de ônibus pela cidade, sempre acompanhados de um enorme guarda-chuva preto, dele... E assim passamos três meses embaixo desse nosso ninho molhado, com os pés sempre encharcados e às vezes tiritando de frio. Mas quem sem importava com isso? Éramos fortes, jovens e belos. Não ficaríamos doentes nunca. Não morreríamos nunca. E era ali que eu queria estar para sempre ...

Um comentário:

  1. Muito lindo! Me transportou no tempo, me senti uma menina por uns instantes!

    ResponderExcluir