terça-feira, junho 24, 2008

Viagem & Conversa - Isso é que é mãe, o resto é bobagem


Um dia Elza recebe um recado. Dona Quinha, a mãe do namorado, tinha um assunto urgente a tratar com ela. Elza passou horas ruminando o convite, pensando no que poderia ser. Pensou recusá-lo. Afinal por qual cargas d´água veio aquele convite! Além disso, incomodava a recomendação expressa de ir sozinha.

- Mãe não vou não! Tô achando estranho...
- Filha, claro que você vai! Sei lá, gosto muito da Dona Quinha e do seu Dante e se eles tão precisando de alguma coisa? A gente nunca sabe... Vai ser uma desfeita você não ir...

Elza coloca o melhor vestido, maquia-se para o inédito encontro. No caminho pensa só coisas boas. Afinal ela era uma moça de família, bonita, prendada, que defeito poderia ter para a mãe do namorado. Além disso, nem sabia o que seria deles dali pra frente... haviam terminado e voltado tantas vezes!Num desses intervalos até ficara quase noiva... de outro. Nem sabia direito se queria levar esse namoro adiante. Dário era tão instável, ciumento, por qualquer coisa brigava. Depois tomava todas e, de madrugada, fazia serenatas intermináveis na calçada, bem embaixo da janela do quarto das Pelicanos...

E assim pensando com seus botões, saiu da Rua Wenceslau Brás, 44, atravessou a linha de ferro, o jardinzinho da Estação, desceu a Rua 13, chegou até a rua larga que acabava, naquele tempo, na Escola Normal, e subiu até o casarão dos Favillas, ali na esquina, ao lado do Fórum da cidade.
Bateu palmas, o portão de ferro se abriu e uma Dona Quinha muito séria se apresentou e a convidou a entrar.

- Elza vou ser bastante franca com você. O Dário tá muito apaixonado. Cada vez que vocês brigam é uma choradeira aqui em casa. Passo noites sem dormir ouvindo as lamúrias dele. É de cortar o coração. Então te peço, de duas umas: ou você firma este namoro com o meu filho ou acabe de vez tudo, sem volta. Não aguento mais ver meu filho sofrer.
Elza leva um baita susto e fica zonza com a objetividade da Dona Quinha. Tanto que ficou sem saber o que responder. Também nem se lembra como conseguiu chegar em casa naquele dia. Quando viu já estava toda esbaforida contando tudo para a mãe, que concordou em gênero, número e grau com a Dona Quinha.

-Elza pare de confusão com o Dário. Também me dá pena ver ele nesse sofrimento só. Que coisa feia! Tô morta de vergonha da Dona Quinha e do Seu Dante. A que ponto você chegou! Ponha a cabeça no lugar e se decida.
Minha mãe tinha 19 anos. Completou 20 em setembro de 1948. No dia 25 de dezembro do mesmo ano, em pleno Natal, casou-se com Dário e foi morar em uma Fazenda de Café, em Francisco Sá. Pertinho de Ouro Fino. O resto é mais história...

Na foto: Maria Amélia, Vó Quinha
Recorte de foto de família, enviada pelo Paulo Afonso

Um comentário:

  1. Que história linda, ah se os dois estivessem vivos, como seria bom eu sabendo disso relembrar com eles, rindo, rindo e "gozando" os ciúmes e a beleza da conversa da futura sogra com a futura nora. Então, seus pais foram morar em Francisco Sá em 1948? Eu tinha dois anos de idade. Ficaram um tempão por lá, pois me lembro que junto com o Luiz Ronaldo - não sei se algum adulto ia com a gente - nós dormimos algumas vezes nessa fazenda e de dia, ficávamos caçando passarinhos com uma arapuca onde usávamos um barbante para puxar o pauzinho e prender um montão de rolinhas. Íamos, lógico, de trem e me lembro muito bem da estação, de pessoas vendendo bolos e café, mas não me lembro da casa da fazenda - só de uma escada para chegar na varanda - Que pena, memória fraca..... Eu adorava sua mãe. Depois, via email, contarei umas brincadeiras que fazia com seu pai.

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