domingo, agosto 16, 2015

Noruega - Em Bergen, abstraia da chuva e aproveite!


O primeiro conselho que o visitante recebe quando chega em Bergen,porta de entrada  dos mais belos fiordes de Noruega, é: “Não deixe a chuva atrapalhar os passeios que pretende fazer.” Chove, chove muito nessa cidade. Tanto que, segundo a lenda, a capital da Noruega foi mudada de lá para Oslo , há muito tempo, em 1300, porque a realeza não aguentava tanta chuva. A gota d´água, literalmente, teria sido um casamento na corte. Não houve espaço suficiente para abrigar todos os convidados das intempéries, durante a a festa.

Feita essa ressalva, um dia de verão e seco ou mesmo algumas horas, em Bergen, fazem a visita valer a pena. E fica fácil depois curti -la até debaixo d'água. É uma cidade linda, com o velho porto, Bryggen, tombado como Patrimônio Histórico da Humanidade pela Unesco.É também uma cidade confortável de se conhecer a pé. É a segunda da Noruega, mas tem apenas 270 mil habitantes. Para distâncias maiores, há ônibus. Há também barcos -táxis para a exploração de bons restaurantes e belezas naturais das ilhas do entorno.

O casario do velho porto define visualmente Bergen  e  vem sendo restaurado ao longo dos séculos para suportar o trabalho do tempo ou a tragédia de grandes incêndios. Bryggen  conta a história da cidade, fundada em 1070, e  que se desenvolveu em torno da atividade pesqueira. Hoje é também um importante centro petrolífero. Foi capital administrativa da Noruega do século XIII até 1299 e a maior cidade da Noruega até a década de 30 do Século 19.

Muita gente, em visita a Bergen, passa apressada pelo quarteirão do restou de  de Brygen.  Admira as famosas fachadas das casas comerciais, fotografa e logo aproveita para escolher um dos bares que ali funcionam para bebericar. E só. Li vários textos de viagens que registraram apenas o por fora, as fachadas de Bryggen, sem uma linha sequer sobre o seu interior. Plasticamente, o que fica melhor nas fotos é mesmo as fachadas das 13 construções remanescentes, ou melhor que vem sendo restauradas e mesmo reconstruídas ao longo dos séculos. Mas a história de Bergen desde a sua fundação, pode ser contada melhor de dentro de suas vielas, prolongamentos das fachadas que encantam os visitantes.

Bryggen foi um Kontor (posto Comercial) da  Liga Hanseática (também conhecido como Hanse ou Hansa), a  aliança de  cidades e mercadores, que se aglutinaram em guildas(Associações,Corporações) e dominaram o comércio ao longo da costa do Mar Báltico ao Mar do Norte, entre os seculos 13 e 17,  quando colonos alemães se estabeleceram na região. A maioria deles era trazida ainda no início da adolescência pelos seus empregadores.Trabalhavam em condições cruéis e moravam no próprio local. Mulheres não eram admitidas em Bryggen, nem como serviçais. Mas fora de seus limites, viviam centenas de prostitutas de várias nacionalidades. Na época, desse porto  fluía  não só o comércio de pescado norueguês para o mundo. mas também a de óleo de fígado de bacalhau, utilizado principalmente como fonte de iluminação. 

Em um dos edifícios preservados, encontra-se a chamada  Sala Secreta, agora museu, do Grupo de Theta do Movimento de Resistência durante a ocupação nazista da Noruega (1940 a 1945). O grupo era integrado por jovens entre 19 e 22 anos. O objetivo era estabelecer  a comunicação entre o governo norueguês no exílio e os chefes da Resistência. No período de ocupação, deram informações valiosas aos aliados  informações sobre o tráfego naval. 

Em Bergen, pode-se comer bem e barato no Fisketorget, o mercado de peixes, que fica  no centro da cidade. Visitante e locais não se cansam de fazer do mercado ponto de encontro para saborear pratos e sanduíches de frutos do mar, salmão ou baleia, a sete euros. Outras delícias são os caranguejos gigantes (King Crab) e camarões grelhados na hora. Há mesas rústicas compridas com bancos e cadeiras para quem quiser comer com mais conforto e não em pé ou caminhando. Há fartura de vários tipos de salmão: os de rio, os de fiordes e os de mar. Cada qual com seu sabor característico. 

Salmão e baleia são vendidos, no Fisketorge, frescos, defumados simplesmente ou defumados com condimentos. Os vendedores do mercado falam um pouco de cada língua, até português. Há muitos estrangeiros trabalhando ali. E para quem não gosta de tanto movimento em volta e não se importa de pagar um pouco mais, há restaurantes por perto, um deles com a entrada bem entre as barracas do mercado. Para os mais exigentes, uma boa opção é o restaurante Cornelius (frutos do mar) que fica num pequeno cais construído no lado noroeste da ilha de Bjorøy, a 25 minutos de barco do centro da cidade, com belas vistas do fiorde de Bergen. Ideal para degustação de ostras, mariscos e caranguejos gigantes.  

A ilha não é acessível por carro. O cliente que não quiser se utilizar do serviços de transporte do restaurante pode ir no próprio barco ou pegar um barco-táxi no centro da cidade. São dois pratos principais e mais a sobremesa. O preço pode ser salgado, como tudo na Noruega. Mas a experiência é imperdível. O restaurante tem criadouros próprios e um dos seus proprietários, Alf Roald Sætre, gosta de ser chamado de Shellfish Man (Homem Marisco), descendente que é de uma das tradicionais famílias de fazendeiros marinhos da região. O chef é Odd Einar Tufteland, especializado em frutos do mar.
Publicado no Blog do Matheus Leitão (G1) em 16/08/2015

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